Caramba, caramba, caramba. Escrevi para o Vitor esses dias e lá se vão meses que ele não responde a nenhuma mensagem minha. Ele fez uma breve pausa nisso para poder me dizer do falecimento do Diogo aos 40 anos. 40 anos, muito muito jovem. Carol, falecida anos atrás, muito mais jovem ainda. E nosso entorno, nós também jovens ainda (ele deve estar com 42 ou 43 - eu 45), já temos uma turma reduzida pela metade. Eu faço meu luto. E eu não tenho ideia de como ele lida com isso. Eu imagino que não seja fácil e que o fato de ele ser ateu não ajuda tanto nessa hora (tanto quanto ser espiritualizada como eu, não adianta tanto)
..
...
Mas, o silêncio dele me incomoda profundamente, profundamente... Primeiro, porque foi esse o sinal 1 de "abandono" que ele me entregou quando terminamos décadas atrás. Segundo, porque na minha visão, é uma clara quebra de uma relação que a gente reconstruiu ao longo dessas mesmas décadas. Terceiro, porque não traz garantia alguma de que ele vá cumprir o que prometemos: não prometemos gostar e amar um ao outro até o fim da vida.... mas, prometemos que ao final da nossa vida, um de nós avisaria o outro. E, quarto... porque a minha percepção do tempo talvez seja muito diferente da dele. Ele pode continuar sendo racional e usar o zeitgeist até hoje... e eu sinto e sou passional. E eu espero tanto por tanta coisa. Eu espero pelas minha necessidades básicas, espero para ter atenção, eu espero por reconhecimento, eu só espero. E queria muito com ele, ter menos espera. Achei que tínhamos intimidade para tudo isso.
.
.
.
E hoje, em certa medida, nada mas, nada mesmo, me garante que ele vê/lê as minhas mensagens (porque de forma geral tenho todas as notificações ocultas pra não gerar ansiedade) mas, principalmente porque ele pode já ter morrido e outra pessoa estar acessando o perfil, relendo nosso histórico (se é que ele manteve - entendo que são conversas proibidas) e simplesmente estar ignorando tudo. Ele pode estar doente, enfrentando algo difícil e estar triste ou... enfim, nada disso cabe a mim imaginar, portanto vou parar.
.
.
como pode-se ver, eu aqui passivamente, pensando de vez em quando sobre as imensas possibilidades, deixnado o processo de culpa descansar, morrer sem nutrição dos meus pensamentos, porque não cabe a mim controlar nada disso. ele já fez isso antes e, em tese pelo aprendizado da vida, eu não deveria aceitar isso agora. da mesma forma como não consegui aceitar a demora em ele me responder mensagens. ou talvez devesse ter a paciência que ele disse que tinha... e eu cobrei ele do pior jetito (ou talvez o mais infantil) que foi "desconectando a amizade" no Face. e ele me respondeu "Virou ódio?"e terminou daquele jeito mais adulto "Mas tudo bem, nao quero te fazer mal. Se eu por aqui te faço mal, entao fica bem"...
.
.
o pior, pra ver o quanto estou doente, é que quando vejo a data da mensagem (estou vendo hoje) foi em 2021... 2021. 29 de dezembro de 2021. eu precisei desconectar ele, pra chamar atenção talvez, pra construir a materialidade do abandono que eu sentia.... só que olhando o histórico, de lá pra cá a gente conversou muitas coisas....
.
.
mas, quando o Diogo morreu, cessou. talvez.... são muitos talvezes.
e o pior é que ele não pode nunca compreender as minhas razões de ansiar pelas respostas dele. Cuidado, carência, vontade de conversar e estar perto, vontade de saber como ele estava de saúde... sempre isso. Mesmo sabendo que terminou lá atrás, vinha essa ansiedade sempre, uma vontade sempre. uma angústia porque pareço presa no tempo até hoje, quando penso nele, quando falo com ele. e porque em algum lugar eu SEI que sobrou muito pouquinho pra mim. Até pro Diogo teve muito mais: anos e anos de amizade.
.
.
E ele, Diogo, me assediou. Ele me agarrou e me beijou a força. E ele marcou encontro falso com o Vitor na intenção de se declarar pra mim, porque sabia que se ele me chamasse para sair, eu não iria. Porque ele sabia que eu era apaixonada pelo amigo dele. E ele sabia que eu não jogaria esse jogo. Há alguns anos, ele me escreveu e me pediu desculpas. E como explicar pra ele que desculpas não aliviavam nada? Como dizer porque eu não sofri por ele ou pelas ações dele... afinal eu já tinha perdido quem era importante, quem eu precisava.... ou seja, já tinha perdido quem eu amava. e mesmo sendo descolada, cool, incrível, eu não tinha energia pra dar a volta por cima de nada. foi um golpe em mim, foi um cheque mate na Rainha, bitch.
.
e acho que tem uma parte de mim que está lá ainda....
quando eu voltei a mim, em 2013, eu tive consciência de que estive "fora" um tempo. parece que acordei. e o dia, o período que fiquei "adormecida" tomando atitudes dos outros e pelos outros, parece que foi a partir dessa onde acreditei, piamente, não ter controle nem merecimento de nada que eu quisesse, desejasse e amasse. e eu amava o Vitor, desejava estar com ele e queria construir projetos e caminhos com ele. Parece nada, mas a interrupção foi tão forte PARA MIM, que não teve possibilidade de seguir, eu acho... parece que dissociei ali. naquele tempo.
enfim.
não consigo mais escrever sobre isso porque não consigo parar de chorar.
e aqui já chegaram minha amiga Camila e os meninos estão percebendo. passei tanto tempo sem escrever tanto (tenho vários rascunhos pra colocar em dia) que nem sei... enfim, é isso por agora.
Photo by Anastasia Shuraeva: https://www.pexels.com/photo/sea-man-couple-love-7539515/