As lições de “auto amor” que a gente recebe dos nossos pais são super importantes pra nossa formação como pessoas. Por “auto amor”, uma palavra que não existe (e se existisse se escreveria “tudo junto”), quero dizer autocuidado, autoestima, autocontrole... uma certa autonomia mesmo, uma capacidade de se autogerir mediante a rotina, frente a desafios, momentos de crise... 

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Quando o Profeta Gentileza dizia que “Gentileza gera Gentileza”, isso foi profundamente sábio. Uma paródia dessa frase, em tempos de memes, me fez rir muito uma vez: “Gente Lesa gera Gente Lesa”... às vezes, pela banalização da importância da primeira ou ainda, por me dar conta que as sociedades e seus indivíduos estão mais feridos e adoecidos que outra coisa, acabo usando muito a segunda frase.

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No exercício da maternidade, eu encontrei esse desafio, de precisar ir atrás de muita autocura, autoamor, autoperdão... porque diante das minhas crias, reproduções de mim em certa medida, não havia espaço para outra coisa que não o AMOR em si. Junto do amor, o pacote completo. E como percorrer esse caminho, pra mim até então quase desconhecido?

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Não que eu não conhecesse o AMOR, já havia me apaixonado... já sabia o que era admirar algo, alguém, já havia sentido a reciprocidade no olhar, no toque, no cuidado de outras pessoas. Mas, a Maternidade me colocou sim diante de algo muito maior, mais vasto e muito mais avassalador e até filosófico: o AMOR não tem subdivisões, não tem fronteira... o amor não tem condições, o amor é cura. O amor é toque, é contato, é cuidado, é sentimento, é hormônio, é uma liguagem-física-química-biologia-matemática que dialoga e desafia a humanidade desde que ela se separa da natureza para ser eu-potente-valente.

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Pois... então, a maternidade abriu essa porteira aí, minha gente.

E isso tem anos já, não é mesmo?

E não tem botão de automação que dê conta de resolver, resetar isso daí em minutos ou num clique.

Cabe à senhora, aqui, caminhar as sendas desse desafio porque uma vez mãe, não tem volta.

Acho que a maternidade não é o único caminho de compreender isso. Não mesmo.

Mas, é um deles. E pra mim, veio assim.  

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E olha que loucura... que plot-twist-carpado que a vida nos dá que é o seguinte: o desenvolvimento da espiritualidade está diretamente conectado com esse fator todo: o amor! 

Dirão os cientistas/descrentes que é um processo meio Interestelar ou mesmo que é tudo fruto da imaginação/sugestão, etc. Mas, não ligo, não me importo porque já fui assim. Mas as experiências que trago nessa seara, desde criança, me trouxeram até um lugar onde posso dizer que consigo “enxergar” coisas com outros corpos, sentir e vivenciar experiências em dimensões que não pensava ser possível (ou saudável... pq racionalmente em termos sociais, poderia flertar com loucura)... mas, de tudo que parece intangível, apenas uma certeza: nada sabemos...

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Nossos “guias, mentores, protetores” estão nos cuidando... Deus (ou Alah, Olorum… use o nome que queira conforme sua crença ou cultura) é o mar… e nós somos ondas batendo nas pedras querendo apenas voltar... e como fazer para exercer essa crença se não pudermos enxergar o amor por trás de tudo isso aí? como parar de ser ondas que quebram sem silenciar, acalmar, acolher e deixar fluir para voltar, lentamente, ao oceano infinito? 

Os guias nos cuidam, os guias amparam a gente... a sensação que tenho é que isso se dá por amor. Cristo amou sem fazer as tais subdivisões (amor filial, carnal, etc.) e muito menos concessões (você é legal, você não é) e ainda deixou no tratado dos ensinamentos as máximas: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39)… “Um novo mandamento dou a vocês: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros” (João 13:34)... e talvez a mais difícil delas: “Amai a vossos inimigos” (Mateus 5:44). 

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E então, vou tentar concluir, só para fechar um pouco o raciocínio, afinal, fui lá na maternidade, na espiritualidade, trouxe um cadinho de cristianismo, ainda que eu seja umbandista (e quem pensa que uma coisa não tem a ver com a outra, se equivoca). 

Como podemos amar ao próximo como a mim mesma, se eu não estiver me amando? Como poderei fazer exercer o amor ao outro se eu não estiver fazendo isso comigo mesma? Amar e cuidar de meus filhos se eu não estiver cuidando de mim e me amando? Como poderei amar e ajudar o outro fazendo concessões, divisões, estabelecendo condições?

E, num pensamento gradual sobre isso, só posso dizer: os guias que nos acompanham e cuidam, nos amam. E para cuidar melhor dos meus filhos e ensiná-los mais sobre resiliência, resistência, para dar valores morais mais fortes e mais amplos, eu diria que a regra começa pelo autocuidado. Pelo autoamor. E ainda mais... é fundamental não confundir amor com posse, amor com superproteção, amor com troca, amor com poder. se olharmos atentos, os filhos nos ensinam sobre o amor. e nós os ensinamos sobre o autoamor e a relação de mutualidade pode se estabelecer por aí... é um caminho. 


Não sei que não sei, definitivamente, se estou acertando. Como saber?

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E sim, sobre a última frase de Cristo, vou deixar quieto porque ela traz 3 palavras importantes: amor, inimigos e estabelece a propriedade desses inimigos com a palavra vossos. Amigos, dá pra fazer um tratado sobre isso hahhaha

Photo by Graeme Travers: https://www.pexels.com/photo/close-up-of-butterfly-sitting-on-blooming-flowers-18921509/


Acabei de ligar para o meu pai. Tipo uma intervenção. Ele estava num dia de cão, depois de ter bebido, gritando na casa, jogou a comida na pia. Ela, a esposa, que há algum tempo aguenta silenciosa e resiliente, me escreveu. “Cheguei fiz janta com amor e todo meu carinho olha que ele fez. Diz que minha comida não vale nada. Jogou o prato na minha cara. Não sei mais o que fazer.”

Tal e qual criança, fiquei pensando em que fazer, como fazê-lo entender. Abandono? Castigo? Ele faz 76 anos e passou uma vida legitimando essas ações de descarregar nas mulheres ao seu redor, suas próprias frustrações. Ele teve 4 mulheres das quais fez 3 delas, esposas. Teve 4 filhas... muita mulher para decepcionar. Não quero falar da minha avó, porque ela é uma mulher e tanto, que amo muito e eu nunca tive como falar com ela sobre meu pai.

E, no meio dos pensamentos e dizendo para a esposa dele que ela não merece isso, que ela poderia, sim, sair dali... Eu, então, liguei para ele. Liguei mesmo e falei um monte de coisas. Falei da bebida. Falei da minha mãe. Falei de jogar comida fora. Falei de jogar prato na cara. Falei das mulheres, das filhas, de envelhecer e ser gostoso de cuidar… ele não é um velhinho bom de se cuidar com essa atitude pra cima de quem cuida.

Falei das minhas irmãs. Ele viaja muito quando fala das filhas. “Como está a K? Como está a G? como está M?”… “Ela é biomédica e mora aqui perto de Mogi”, repetiu isso 3 vezes, como se não estivesse falando comigo. “Ela me liga e me manda mensagem todo dia, mas eu não dou muita atenção”. Eu acho que essa afirmação é imprecisa.

Ele me falou do meu primeiro aniversário. Citou o pastor Marciano de Oliveira que, segundo meu pai, disse olhando para mim que fazia 1 ano… “coitado de mim que estou do fim da vida, ela só está começando.” Não sei se isso é uma frase motivadora. 

Mas, sei que o meu primeiro aniversário foi uma zona... soube outro dia, traumatizou muita gente. Meu bolo de aniversário foi destruído e enquanto meu pai dava toda essa memória perguntei: “você se lembra do meu bolo de aniversário?” e ele respondeu: “pois é, tinha bolo para tudo quanto é lado… mas, você se lembra disso?” e eu só respondi que sim. 

Recentemente, conheci a pessoa que fez meu bolo, quando fui na casa do meu querido tio, O. portanto, perguntei e eles me contaram mais ou menos em primeira mão. Pq o trauma foi tanto que eles não queriam lembrar. E, agora, escrevendo isso me passa que talvez seja por isso que eu não goste de aniversários e deteste a hora dos parabéns!…

enfim... essa foi uma conversa densa, com meu pai, onde eu mais uma vez, precisei ser a conselheira. Não deveria ser assim... mas, agora que completei 45 e miro que estou fazendo a virada do bico do corvo que.... na minha velhice não quero ser rabugenta. 

Deus, me livra da rabugice por favor.

Quero ser uma velha engraçada que não se reprime por nada.

Era preciso ter mais afeto. Era preciso ter mais amor. “Pai, vc precisa cuidar da sua cabeça. Sua filha está internada se desintoxicando. Ela está lá há quatro meses. Eu queria ouvir de você que vc está há três dias sem beber. Queria ouvir que vc está há um mês sem beber.” 

Ele chorou, me escutou falar coisas duras. 

Ele nem precisava passar por isso, mas deu motivo, porque está maltratando a única pessoa que se dispôs a cuidar dele, ele não pode ser vil assim… digo, vil. É uma palavra difícil. mas, não pode ser.


Que noite difícil, minha gente. 

Que difícil!

Fica aí a imagem da comida jogada na pia pra registro da posteridade.

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