Keila Nêga
Nasci assim meio café com leite.
Filha/Neta de indio, negro, brasileiro, português, africano, baiano, mineiro, paulista....
Tal e qual a música do Chico Buarque,
Sou assim essa mistura que veio ao mundo café com leite...
Não sou loira, não tenho olho azul.
Não sou ruiva, não tenho olho verde.
Tenho cabelo enrolado, olho escuro, nariz de "batatinha".
Mas, também não sou negra da pele escura, não tenho a bunda arrebitada.
Vim com olho meio puxado mas, não sou japonesa.
Sou um pouco índia mas, não sou pele vermelha.
Tenho cabelo enrolado mas, não é daquele duro não...
E é cabelo fino, muito cabelo, muito cachinho...
Não me passe um pente, não!
E assim eu cresci, sem saber me definir, sem saber o que significa esse "PARDO" estampado na minha certidão de nascimento. Me comparei a um envelope outro dia e fez todo o sentido. Mas, não sei quem veio primeiro: se o pardo da pele das pessoas é por causa do envelope ou o envelope tem esse nome por causa da pele das pessoas.
Pra fazer a confusão maior, quando fiz 12 anos, minha mãe correu comigo pro salão e mandou alisar. Bota química no cabelo ruim dela. E assim foram alguns largos anos sem poder lavar a cabeça todo dia, sem poder tomar chuva em dia de escova, sem poder ir na piscina com as meninas da escola. Além das sessões de tortura dentro do salão: o bobs... o secador com forma de capacete de astronauta, o couro cabeludo queimando e eu sem graça chamando a mulher do salão pra pedir para "abaixar" a temperatura...e depois, aquele estiiiiiica, estiiiiiica da escova e secador.
Graças a Deus eu acordei e deixei de cometer esse crime tão pronto pude ter voz ativa e impedir que me arrastassem pro salão (vide aos 16). Nem, alisamento, nem chapinha, nem escova japonesa/marroquina ou similares...
Mas, voltando pra questão da pele... a pele não resolvia não.
Nunca consegui resolver essa identidade até outro dia.
Me descobri negra sim, negra da pele clara sim mas, negra.
Negra que tem pé no samba, que tem origem na Africa, bisneta de escravo, neta de avô negro.
Negra com nariz de negro. Negra com pele de negra. Negra com ginga, com charme de negro.
Negra que gosta de rap, hip hop e que pensa nas questões sociais.
Como eu podia ser preconceituosa comigo mesma?
Como eu podia ser preconceituosa, de forma tão velada, com minha própria natureza, por tanto tempo?
Pensando um pouco... aqui no Brasil isso está enraizado na sociedade, na cultura... a gente ainda vive uma espécie de escravidão no país. Com tanto problema social, político e econômico é difícil imaginar que um país inteiro sairia do ostracismo de si mesmo, em 100/150 anos, sozinho e por milagre... dificil, não. Não sai. Tudo oprime e leva pra que essa diferença racial exista.
Nos Estados Unidos houve Malcom X, houve Martin Luther King. No mundo, existiram outras lutas de negros, existem muitas lutas ainda. Existe Nelson Mandela e uma infinidade de outras figuras que minha ignorância não permite listar agora...
E eu cresci lendo Cosmopolitan e Capricho...
Bem, pela primeira vez, me senti como uma sista. Me senti bem dentro da minha pele. Me senti tranquila por dizer que sou negra sim, e sou linda assim. Podem dizer o que quiserem. Não tenho mais vergonha de ser quem eu sou.... e isso, não por causa de ninguém.
é só por mim. e é assim que vou encontrar o meu caminho pra ser feliz.
Sou negra sim, e vou vivendo....
Tem gente que se nega e está morrendo....
Filha/Neta de indio, negro, brasileiro, português, africano, baiano, mineiro, paulista....
Tal e qual a música do Chico Buarque,
Sou assim essa mistura que veio ao mundo café com leite...
Não sou loira, não tenho olho azul.
Não sou ruiva, não tenho olho verde.
Tenho cabelo enrolado, olho escuro, nariz de "batatinha".
Mas, também não sou negra da pele escura, não tenho a bunda arrebitada.
Vim com olho meio puxado mas, não sou japonesa.
Sou um pouco índia mas, não sou pele vermelha.
Tenho cabelo enrolado mas, não é daquele duro não...
E é cabelo fino, muito cabelo, muito cachinho...
Não me passe um pente, não!
E assim eu cresci, sem saber me definir, sem saber o que significa esse "PARDO" estampado na minha certidão de nascimento. Me comparei a um envelope outro dia e fez todo o sentido. Mas, não sei quem veio primeiro: se o pardo da pele das pessoas é por causa do envelope ou o envelope tem esse nome por causa da pele das pessoas.
Pra fazer a confusão maior, quando fiz 12 anos, minha mãe correu comigo pro salão e mandou alisar. Bota química no cabelo ruim dela. E assim foram alguns largos anos sem poder lavar a cabeça todo dia, sem poder tomar chuva em dia de escova, sem poder ir na piscina com as meninas da escola. Além das sessões de tortura dentro do salão: o bobs... o secador com forma de capacete de astronauta, o couro cabeludo queimando e eu sem graça chamando a mulher do salão pra pedir para "abaixar" a temperatura...e depois, aquele estiiiiiica, estiiiiiica da escova e secador.
Graças a Deus eu acordei e deixei de cometer esse crime tão pronto pude ter voz ativa e impedir que me arrastassem pro salão (vide aos 16). Nem, alisamento, nem chapinha, nem escova japonesa/marroquina ou similares...
Mas, voltando pra questão da pele... a pele não resolvia não.
Nunca consegui resolver essa identidade até outro dia.
Me descobri negra sim, negra da pele clara sim mas, negra.
Negra que tem pé no samba, que tem origem na Africa, bisneta de escravo, neta de avô negro.
Negra com nariz de negro. Negra com pele de negra. Negra com ginga, com charme de negro.
Negra que gosta de rap, hip hop e que pensa nas questões sociais.
Como eu podia ser preconceituosa comigo mesma?
Como eu podia ser preconceituosa, de forma tão velada, com minha própria natureza, por tanto tempo?
Pensando um pouco... aqui no Brasil isso está enraizado na sociedade, na cultura... a gente ainda vive uma espécie de escravidão no país. Com tanto problema social, político e econômico é difícil imaginar que um país inteiro sairia do ostracismo de si mesmo, em 100/150 anos, sozinho e por milagre... dificil, não. Não sai. Tudo oprime e leva pra que essa diferença racial exista.
Nos Estados Unidos houve Malcom X, houve Martin Luther King. No mundo, existiram outras lutas de negros, existem muitas lutas ainda. Existe Nelson Mandela e uma infinidade de outras figuras que minha ignorância não permite listar agora...
E eu cresci lendo Cosmopolitan e Capricho...
Bem, pela primeira vez, me senti como uma sista. Me senti bem dentro da minha pele. Me senti tranquila por dizer que sou negra sim, e sou linda assim. Podem dizer o que quiserem. Não tenho mais vergonha de ser quem eu sou.... e isso, não por causa de ninguém.
é só por mim. e é assim que vou encontrar o meu caminho pra ser feliz.
Sou negra sim, e vou vivendo....
Tem gente que se nega e está morrendo....
Miss Liquid
Miss Liquid é o codinome que escolhi quando comecei a escrever esse blog em 2001. Reflete a capacidade que tenho de me adaptar às situações e também os estados de espírito que posso percorrer: do mais frio (ou até gelado) até a ebulição, o fervor... Perspicaz, afiada, intensa, sagaz. Amorosa, sensível, mãe. Aqui me expresso plenamente, já que nas redes sociais, os caracteres são limitados e as mentes superficiais.
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