desabafo

tem momentos que tudo parece me irritar. olho pra meu redor e não vejo nada que me motive a nada. nada tem a minha cara, nada tem o meu jeito nem a minha participação ativa. seria tudo produto de uma historia de passividade frente aos fatos, um "deixa rolar" compulsivo para parecer que tudo é natural e relaxado... não sei se eu saberia fazer as coisas de forma diferente mas, o fato é que olho ao redor e toma conta de mim um certo desespero, uma certa fobia, uma certa vontade de eu deixar de ser eu.

tem dias que me esforço para fazer algo que tenha a minha cara. algo que eu diga que é fruto da realização das minhas proprias mãos e está forjado com idéias que sairam da minha imaginação. no fim, o que tenho, em geral, são pedaços de papel rasgado e produtos com formas assimétricas e feias, um resultado final muito distante do proposto e imaginado... o sentimento de frustração parece me deixar muito pior...

por isso, em geral, tento algo e largo por tanto tempo. foi assim com as velas, com os cadernos, com as caixas, com pintar, desenhar... tudo foi ficando disforme e distante do imaginado e isso eu não posso suportar. por isso, tudo isso está realmente deixado de lado.

assim, se torna melhor ler do que escrever. melhor olhar as fotos dos outros do que sair para tirar, revelar e etc... assim, melhor invejar as obras dos artistas que sujar as mãos de tinta e arriscar. melhor baixar algo pronto e não precisar pensar e suar para criar. melhor ir a uma loja e dizer que está caro, não conseguir comprar matéria prima e ter vergonha de buscar na rua, assim seguimos num lamaçal de frustração.

meu corpo não obedece mais à minha mente porque há anos minha mente parou de criar e passou a se guiar por medos, vontades volúveis, ideais insolúveis, pânico, estresse e uma obsessão por uma vida que não posso me dar. e agora, o que estou fazendo é gerar uma vida que não sei se posso cuidar.

como é que vou fazer com este bebê? como é que vou amá-lo e dar o que ele precisa? como é que não vou me sentir idiota diante de tanta coisa que não sei como fazer? como é que vou ser exemplo e espelho para ele, para ensiná-lo a ser gentil, a ter esperança, a lutar pelos sonhos dele e a não ter medo de enfrentaro mundo? como posso fazer isso se sou uma grande farsa, um fracasso sem fim?

ou eu não precisaria saber como, nem ter essa ansiedade do quando?
será mesmo que a gente se descobre mulher, leoa e mãe ao mesmo tempo?
será que isso tudo são hormônios, medo do desconhecido e que na verdade ser mãe é, sim, viver no paraíso?

estou aqui para saber.
estou aqui pelas respostas.
e minhas perguntas nunca cessarão.
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