"Tudo bem. Domingo de Pascoa. Famílias da Zona Sul do Rio de Janeiro ou de Perdizes, em São Paulo, comemoram a ressureição de Cristo. Na minha infância, quando voltava da igreja da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Zona Leste, adorava o almoço de domingo depois da missa. Sim, andava um pouco mais de dois mil metros da igreja até a minha casa. Andava sozinho e fiz isso dos 7 aos 11 anos. Era uma área pobre, mas ninguém achava perigoso crianças andarem nas ruas. Hoje, se você mora em uma favela, você pode morrer na porta de sua casa. Afinal, uma parte da classe média acha que barraco não é casa e criança no morro é bandido. Por isso, apóiam esse monstro do Eduardo Cunha e as forças policiais que matam jovens negros e pobres nas periferias do Brasil. O mais cínico é que essas pessoas que votaram no Eduardo Cunha e em figuras como Bolsonaro dizem acreditar na palavra de Cristo. Não me iludo. O Brasil tem policiais que matam a sangue frio crianças de 10 anos. Não sou mais religioso, mas precisamos de todos aqueles que de fato acreditam em sua fé religiosa para denunciarem os cínicos que se infiltram nas igrejas para pedir votos e para defender a matança em nome de Deus. Que fique claro, Cristo nunca defendeu a violência. Por isso, é hora dos cristãos pacificamente não aceitarem mais autoridades corruptas e violentas. Policiais que matam crianças de dez anos terão o reino dos céus? Acho que não."
O texto e a reflexão, de alguma forma refletem um pouco da minha opinião.
Quando mais me torno espiritualizada, mais percebo porém menos compreendo o uso da religião como forma de manipulação, controle e enriquecimento institucionalizado.No final das contas, lá pelos comentários, alguém vem com a questão de que o que falta é educação.... e eu, que ando pensando muito nessas coisas e sentido muito tudo isso, comento algo parecido com o texto abaixo. Parecido porque aqui, pude me extender um pouco mais.
Sabe que até a questão da educação, como ingrediente para a solução dos problemas do Brasil, é algo que tenho pensando seriamente?
E sabe por que?
Vou colocar assim:
Hoje vi uma foto onde havia uma fila de carros caros estacionados numa ciclovia novinha. Carros provavelmente comprados por gente que tem acesso às melhores escolas e ambientes sociais. Também vi outro dia, estudantes de medicina de uma universidade pública (para o qual o acesso de negros só é garantido por cotas e de pobres, só os que ralam muito e tem a dita SORTE mas, olha, não é racismo nem exclusão, viu?), alunos de de sexto ano recebendo calouros vestidos com roupas que remetem claramente ao Ku Klux Klan.... Porque entendo que a mídia e a política que formam a opinião pública do nosso país e que moldam a massa... Tudo isso é feito por gente que em 99,9% dos casos teve acesso à melhor educação, cursos no exterior, famílias aparentemente estruturadas...
Na minha visão o problema passa por outro lado, onde não esta relacionada a questão de saneamento básico, que não tem a ver com a educação escolar ou acesso à saúde do Einstein ou do Sírio Libanês à possibilidade de andar plenamente pelo Shopping ou pela Oscar Freire ou viagens a NY.
O buraco tá muito mais embaixo, praticamente no âmago da sociedade e tá fora da minha compreensão entender como fazer pra resolver esse problema.
Tá na questão de valores, de moral, de bons costumes e ao meu ver até de semântica.
Posso estar escrevendo isso aqui e ser rapidamente confundida com uma pessoa moralista e não é isso. Mas, também não é moral essa caretagem preconsceituosa que está rolando, ao mesmo tempo em que as pessoas confundem claramente libertinagem com liberdade e independência com fazer aquilo que bem se quer sem olhar pro lado, pisando a cabeça dos outros.
Não e moral nem nem educação pensar numa sociedade onde entrou em desuso a empatia, e onde ao invés de socializar, as pessoas estão se tornando cada vez mais retrógradas e superficiais e mesmo onde a palavra SUPERFICIAL já ganhou um novo sentido porque agora também é limitado por uma profundidade que vai até os 140 caracteres de compreensão.
Enfim, pra seguir vivendo, aqui escrevo e só penso em carpe diem, fazer o meu e viver do jeito que é possível viver sem abrir mão das minhas opiniões e sonhos.
Apesar de ter tudo para ter tudo isso estrangulado pela meritocracia e pelo racismo e pelo machismo, everyday.